Publicidade

Afinal, o petróleo é nosso?

Tema do dia: aproveitar a última janela, antes da transição energética, para fortalecer nosso parque industrial de derivados de óleo e gás.

Por *Ranulfo Vidigal

Petrobras anunciou a entrada em operação de 15 novas plataformas próprias de produção de petróleo e gás, a maior parte no pré-sal do Rio de Janeiro.

A história é a mestra da vida e nela a sociedade deve buscar os ensinamentos capazes de construir o seu futuro. Outra observação válida para interpretar o tempo presente é que toda periferia busca um centro e a história mostra que sem uma visão estratégica e um projeto nenhum país chega a lugar algum.

O Brasil é provido de recursos naturais, de minérios, solo agrícola, água doce e fontes energéticas, notadamente petróleo, mas mesmo assim, ainda se mantem periférico, ou seja, possui grande potencial econômico e pouco poder econômico e político. Contribuir com a mudança qualitativa de nossa inserção na divisão internacional do trabalho, como vigora na atualidade, parece um imperativo do tempo atual.

Em escala planetária, o Brasil lidera a exportação líquida de alimentos seguido pela Argentina. E a Agropecuária contribui com 7 por cento no PIB e os nossos produtos alimentares respondem por 40 por cento das exportações gerando divisas em moeda forte.

Outro fato relevante. Pelos dados do governo federal, o petróleo bruto foi o produto mais importante na exportação de bens no primeiro bimestre do ano de 2024.

Aí começa nossa contradição. Ou seja, o modelo econômico atual da especialização rentista/especulativa e da reprimarizaçao da pauta exportadora gera perda de vigor econômico e, simplesmente, nos traz de volta a recordação do estado mínimo liberal da República Velha (1889-1930), quando o crescimento médio da economia era de meros 0,7 porcento ao ano.

O modelo oligárquico-agrarista daquela época vigorava num país de população morando no campo. Entretanto, somos hoje uma sociedade urbana com 101 milhões de trabalhadores ocupados, em plena era digital/informacional.

Nesse contexto, aproveitar a última janela, antes da transição energética exigida pela crise ambiental, para fortalecer nosso parque industrial de derivados de óleo e gás parece um tema da ordem do dia.

Mas isso exige vultuosos investimentos em plataformas, navios, refinarias, prospecção e produção do ouro negro. Vejam um exemplo disponível no último balanço da Petrobrás: a companhia consegue extrair petróleo na camada pré-sal por 3,78 dólares por barril e no pós-sal profundo e ultra profundo a 12,12 dólares por barril. Salve a engenharia nacional!

A chamada renda diferencial do petróleo, na forma de royalties de participações especiais contribui de modo decisivo para a execução de políticas públicas no Estado do Rio de Janeiro e o centro de pesquisa da Petrobrás, presente na capital, é um exemplo de apoio à inovação no território nacional.

Nesse contexto, esta rentável sociedade de economia mista, além de suas responsabilidades empresariais e microeconômicas inegáveis possui também, a missão de exercer papel estratégico na restruturação industrial do país e na garantia de combustíveis a preços acessíveis à população.

O padrão de especialização produtiva de uma nação é fator chave para inserir os seus trabalhadores em setores tecnologicamente sofisticados, de alta produtividade e bons salários. Isso que importa na trajetória de longo prazo do desenvolvimento do ERJ.

*Ranulfo Vidigal – economista

Artigos relacionados

 O Rio e sua competitividade 

Nas últimas décadas, houve investimentos em projetos na Região...

Povo não come PIB

A sofisticada engenharia econômica não capta a vida concreta...

O Rio e a síntese nacional

Apesar das transformações econômicas nas últimas décadas e do...