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Produção de cana fica abaixo da estimativa anual no RJ

Em 2023, as usinas fluminenses moeram cerca de 2 milhões de toneladas de cana – bem menos que os 11 milhões do final da década de 1980

A safra 2023 de cana-de-açúcar foi encerrada neste mês de novembro. Segundo dados da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan), nenhuma fonte de produção ultrapassou as expectativas estimadas para o ano, devido principalmente aos períodos de seca severa e prolongada, além de chuvas irregulares ao longo dos meses. Contudo, a cana continua sendo fundamental na agricultura do interior do estado.

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Segundo informações apresentadas pela Asflucan, a Usina Coagro, que estimava colher 900 mil toneladas de cana-de açúcar, colheu cerca de 887 mil toneladas. Na Nova Canabrava, a moagem teria ficado em torno de 300 mil toneladas – bem menos que em 2022, quando foram moídas cerca de 650 mil toneladas.

A capixaba Usina Paineiras, que trabalha com produtores do norte do estado do Rio, moeu cerca de 400 mil toneladas de cana este ano, seguindo a média do ano passado. Já a cabofriense Agrisa moeu aproximadamente 250 mil toneladas em 2023.

Com estes dados, o estado do Rio de Janeiro fecha o ano com uma moagem de cerca de 2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Este número é bem menor que no final da década de 1980, quando as lavouras fluminenses colocaram nas moendas cerca de 11 milhões de toneladas de cana.

Produção reduz de forma gradativa

O cultivo da cana veio diminuindo gradativamente ao longo dos anos. A crise no setor deriva de diversos fatores econômicos, como o baixo preço da cana. Outro grande vilão é o clima: as estiagens têm sido cada vez mais intensas e prolongadas, atingindo em cheio os produtores rurais – que, em sua maioria, são pequenos proprietários de terra. Com pouca água para irrigação e baixa produtividade, muitos estão trocando a cana por outras culturas.

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– Este ano a usina Paraíso não moeu porque não teve cana. Como tem novos plantios em Quissamã e em outras regiões, nós acreditamos que no ano que vem a Paraíso vai moer. Aí teremos mais uma usina. Mas só teremos uma previsão dessa data em março/abril do ano que vem. Agora mesmo estamos com dificuldade, uma seca grande no mês de novembro, que não é normal. Então nós dependemos das chuvas entre novembro e março para determinar, por exemplo, a safra do ano que vem – explica o presidente da Asflucan, Tito Inojosa.

Segundo Tito, a cana-de-açúcar, para se desenvolver bem, precisa de cerca de 1.100 a 1.200 milímetros de chuva por ano, para uma produtividade em torno de 80 toneladas/hectare. Mas a média de Campos, por exemplo, é de 950 a 1.000 milímetros de chuva por ano.

– A gente leva meses sem chuva e a cana precisa ter, no mínimo, uma complementação de água e irrigação de 250 mm por ano para compensar esse período que não chove; e isso é caro. Cerca de 80% dos nossos produtores são pequenos, têm menos de 20 hectares. Então, até para levar essa tecnologia de irrigação é complicado – observa o presidente da Asflucan. Ele lembra que a associação, junto com a Prefeitura de Campos, tem feito uma força-tarefa para facilitar a chegada de água aos produtores, através de ações como a limpeza nos canais da região.

Dificuldades para além da seca

Doutor em Planejamento Regional e Gestão de Cidades, o professor Leandro Campos também aponta como entraves no setor da monocultura da cana a falta de um aporte econômico e produtivo no cenário brasileiro.

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Além disso, como solução, ele aponta fatores como maiores incentivos financeiros, melhoria da frota de produção e escoamento, usinas mais tecnológicas e de menor tamanho, reforma constante dos campos produtivos, contratos de parceria com o Porto do Açu e meios acadêmicos para promover atualização/reciclagem em conhecimento da mão de obra empregada.

– Outro agravante é a falta de incentivos públicos no setor, principalmente em melhoria de estradas municipais. Fazendo uma simples comparação ao açúcar produzido no Estado de São Paulo e no Nordeste do Brasil, perdemos em preço de oferta, fazendo com isso que se torne mais custoso, inviabilizando que o produto seja destinado para exportação – comenta Leandro.

Leia também: Da cana ao petróleo, o ciclo econômico do Norte Fluminense

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